
A suspensão, no entanto, não agradou moradores de Minas Gerais. Cerca de cem pessoas fizeram uma manifestação em frente à Fundação Hemominas, em Belo Horizonte. A meta anual de 30.800 doadores, estipulada pelo Ministério da Saúde, foi cumprida e, desde o início do mês de novembro, as unidades regionais suspenderam o procedimento. A meta foi alcançada com a ajuda de campanhas feitas por familiares do gerente de concessionária Edson dos Santos Silva, de 44 anos, pai de Samuel, de 4, que está internado há um ano e oito meses.

A indignação é compartilhada pelo coordenador da Comissão de Doação de órgãos e tecidos do HC-UFTM, Ilídio Antunes Júnior, que considera a questão contraditória uma vez que o estímulo à doação deveria ser o foco constante dos hemocentros. “É algo extremamente delicado e difícil entender, porque em uma suspensão dessas, mesmo temporária, poderiam ser inscritos doadores compatíveis com tantas pessoas no mundo e salvar vidas. Pode ser que nesse momento alguém esteja morrendo porque alguém não pode doar pelas inscrições suspensas”, ressaltou.
Em junho, a Justiça Federal em Franca (SP) derrubou as restrições à quantidade de doadores na cidade, a partir da ação movida pela paciente Caroline Parzewski, com leucemia, falecida no início de novembro.
Segundo a advogada de Caroline, Gisele Silva Oliveira, a família só soube da limitação de cadastros quando voluntários não conseguiram realizar a coleta de material no Hemonúcleo. Para ela, a portaria coloca em risco a saúde das pessoas e vai contra o artigo 196 da Constituição Federal que estabelece que a saúde é um direto de todos.
Em outubro a Justiça Federal em Goiânia obrigou o Ministério da Saúde a fazer, em até 20 dias, os exames de histocompatibilidade das amostras do Hemocentro da capital goiana e de outros laboratórios onde haja material semelhante. O teto em Goiás foi considerado inconstitucional. A ação foi movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no estado, a partir do apelo da família da paciente Rafaela Raizer, de 6 anos, com leucemia. Movimento similar ocorre em Pernambuco e Mato Grosso do Sul, onde as seccionais da OAB preparam ações para derrubar as restrições.

Profissionais da área, no entanto, enxergam na iniciativa uma pressão de grandes laboratórios para voltar a faturar com exames desenfreados. Não falta quem concorde com a visão do ministério e diga ser mais importante a variabilidade do que a quantidade de doadores. O Ministério da Saúde pretende recorrer das decisões da Justiça que derrubam o teto de doadores da medula em Franca (SP) e em Goiás. De acordo com o coordenador do Sistema Nacional de Transplantes do ministério, Heder Murari Borba, as ações movidas na Justiça “são eivadas de boa índole”, mas não fazem sentido do ponto de vista técnico.
O teto estabelecido pelo Ministério da Saúde começou em 2012 - eram admitidos, então, no máximo 267,1 mil novos cadastrados anuais no Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). No ano seguinte, outra portaria estendeu o limite para 400 mil novos doadores anuais.
Com a publicação das portarias e a divulgação do estudo da Rede Brasil de Imunogenética, foram enviadas recomendações para os hemocentros e os laboratórios de imunogenética quanto à realização de campanhas. Caso haja justificativa, uma campanha poderá ser autorizada, mesmo que ultrapasse o teto.

Fontes:
- PORTARIA Nº 844, DE 2 DE MAIO DE 2012
- Rede Câncer: Quando menos é mais
- Rede Fonte: Garota Rafaela Raizer passará por transplante em São Paulo
- O Globo: Pacientes derrubam na Justiça limite imposto pelo governo para doações de medula óssea no país
- O Tempo: Familiares de pacientes com leucemia fazem manifestação por doações
- G1: Cadastro de doação de medula óssea está suspenso, diz Hemominas
- G1: Uberabenses lamentam suspensão no cadastro de doadores de medula
- G1: Mulher derruba na Justiça portaria que limita cadastro de doação de medula
- G1: Morre em SP advogada que derrubou portaria sobre doação de medula